Espaço do livro "Uma Proposta Textual para a Descrição do "O" da Língua Portuguesa"

 

O autor

 

Sílvio Vieira de Andrade Filho

    Filho de Sílvio Vieira de Andrade (prefeito de Guareí, SP em 1947 e vereador deste município por duas legislaturas: 1948-1951 e 1952-1955) e de Dona Filomena Aparecida Vieira, o autor nasceu na sede do mencionado município em 06.10.1944. Em 1971, casou-se com Célia Maria Cruz Vieira de Andrade em Sorocaba, SP, cidade onde o casal vive com os filhos. Em Guareí, o autor fez o curso primário. Fez os cursos ginasial e clássico no Instituto de Educação "Peixoto Gomide" de Itapetininga, SP. Depois da graduação em Letras na Universidade de Sorocaba (Uniso) em 1968, concluiu a pós-graduação em Filologia Românica na Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, tendo realizado um estudo contrastivo do sistema temporal das línguas românicas (1970). No ano seguinte, como bolsista do Instituto de Alta Cultura de Lisboa, inteirou-se dos estudos dialetológicos da língua portuguesa na universidade da referida capital portuguesa. A partir de 1982, Sílvio Vieira de Andrade Filho freqüentou os cursos de Lingüística do Mestrado da Puccamp. Para a obtenção do título de Mestre, elaborou a dissertação "Definido? Uma Proposta Textual para a Descrição do O em Português" (1986), tendo sido orientadores o Prof. Dr. Antônio Suárez Abreu e o Prof. Dr. John Watson Martin. Nesta data, começou a freqüentar os cursos de Lingüística da Universidade de São Paulo e a tese de Doutorado de 1993 resultou na obra "Um Estudo Sociolingüístico das Comunidades Negras do Cafundó, do Antigo Caxambu e de seus Arredores", ISBN 85-89017-01-X, Secretaria da Educação e Cultura de Sorocaba, 2000. Objeto de reportagens na mídia, esta obra tem levado o autor a congressos científicos e à elaboração de artigos como o intitulado "A rota Sorocaba e região para o sul e vice-versa: tropeirismo, movimentações e migrações". O livro “Guareí”, ISBN 85-904104-1-2, surgiu em 2004 e foi patrocinado pela Prefeitura Municipal e Câmara Municipal de Guareí. Por conta desta obra, o autor tem recebido grande quantidade de e-mails de pesquisadores e de pessoas naturais do referido município paulista e da região que residem em diversos pontos do Brasil. O livro “Itapetininga”, ISBN 85-904104-3-9, é de 2006. Com este, o autor também tem recebido grande quantidade de e-mails com apreciações positivas de pessoas que têm vínculos com o referido município paulista e que residem em várias partes do Brasil. A segunda edição do livro "Um Estudo Sociolingüístico das Comunidades Negras do Cafundó, do Antigo Caxambu e de seus Arredores", ISBN 85-904104-2-0, data de 2009. O livro "Notas e Documentos Complementares", ISBN 978-85-904104-4-7, é de 2015. Cada obra completa as demais. Em 2020, surgiu “Uma Proposta Textual para a Descrição do “O” da Língua Portuguesa”, obra exclusivamente lingüística e pedagógica.

 

E-mail e site do autor

vieira.sor@terra.com.br

 

http://www.cafundo.site.br.com

 

 

 

Apresentação

 

A obra “Uma Proposta Textual para a Descrição do “O” da Língua Portuguesa” é resultado de minha dissertação de Mestrado na PUC de Campinas em 1986, curso que buscava principalmente a aplicação da Lingüística ao ensino do português. Intitulada “Definido? Uma proposta textual para a descrição do O em português”, esta dissertação passou por reformulação, tendo recebido quatro artigos complementares que escrevi para a mídia. Estes são os quatro capítulos finais do livro.


Com farta exemplificação, este estudo tem bases na gramática gerativo-transformacional e na gramática textual.


Apesar de estar em aberto, este estudo contém muitos fatos que representam avanços científicos. Dentre estes, estão importantes generalizações e observações que contrastam com a gramática tradicional.


Câmara Jr. (1967: 160) observa o seguinte: “A classificação usual dos vocábulos, que se prende à tradição gramatical greco-latina, deve ser remodelada à luz da observação da lingüística geral”.


Em Genouvrier e Peytard (1974: 45), encontramos estas observações:


“... não há pedagogia autêntica e sólida sem preocupação com a ciência e com o conhecimento teórico ...”
“Se pretendemos que é preciso, para tornar eficaz e agradável o ensino do português, uma iniciação aos princípios e aos resultados da Lingüística, é que vemos nessa aquisição teórica o meio de dominar os problemas fundamentais da língua portuguesa e de descobrir os caminhos mais fecundos para a iniciação do aluno”.


Em Martin (1975: 3), encontramos esta passagem:


“A cada ano, difunde-se no Brasil o estudo da Lingüística. Poucas são, porém, as repercussões deste fato no ensino da língua pátria. Conclui-se: ou a Lingüística tem poucas possibilidades de traduzir-se em efeitos práticos ou há uma grande e lamentável falta de comunicação entre, por um lado, os teóricos desta matéria e, pelo outro, os encarregados do ensino do português nas escolas. Pretendo, no que se segue, demonstrar que a primeira destas alternativas é falsa e, ao mesmo tempo, oferecer uma pequena contribuição para a aplicação do pensamento lingüístico a uma melhor formulação da gramática da língua portuguesa”.


Seguindo as orientações de autores como os citados, elaborei este livro de divulgação científica que espero ser de grande utilidade para todos os que se dedicam à língua portuguesa.


Sílvio Vieira de Andrade Filho

 

 

 

O livro

 

Abstract

 

 

Este livro com oito capítulos procura contribuir principalmente com o estudo sincrônico do “o” da língua portuguesa do Brasil de acordo com a Lingüística atual com base na Gramática Gerativo-Transformacional e na Lingüística Textual.

 

Este estudo contém generalizações e novas classificações e idéias ligadas à Psicologia e à Pedagogia além de críticas às propostas da Gramática Tradicional que aparecem durante os estudos contrastivos.

 

Expressões e palavras-chave: lingüística, língua portuguesa do Brasil, gramática gerativo-transformacional, lingüística textual, repertório, sincronia, generalização, mostrativo, gramática textual, estrutura profunda, classificação, frase nominal, situação de comunicação, marcante, transformação, psicologia, gramática tradicional, estudos contrastivos, dialogante, agramaticalidade, pedagogia, atributo, coerência, dêitico, generalizações, qualificador, pragmática, enunciado, ortografia, registro, competência, textualidade, estruturalismo, grafema, comunicação, emissor, receptor, não marcante, apagamento, usuário, terminologia, estrutura superficial, ambigüidade, psicolinguística, interpretação semântica, coesão, referência, intencionalidade, contexto, sintagma nominal, cláusula relativa e constituintes imediatos.

 

 

 

Como adquirir o livro

 

Este livro pode ser adquirido na plataforma digital Amazon (clique aqui) ou com o próprio autor através do e-mail vieira.sor@terra.com.br.

 

 

 

Reportagens

(17.04.2020) Com o título "Lingüística em Livro", o jornal Diário de Sorocaba noticiou o lançamento do livro "Uma Proposta Textual para a Descrição do "O" da Língua Portuguesa" do historiador e lingüista Sílvio Vieira de Andrade Filho.

(17.05.2020) O livro "Uma Proposta Textual para a Descrição do "O" da Língua Portuguesa" do lingüista Sílvio Vieira de Andrade Filho foi objeto de notícia no Internet Jornal de Itapetininga, número 48, página 01. A mencionada notícia veio com este título: "Novo livro de Lingüística".

(24.05.2020) O Internet Jornal de Itapetininga, número 49, publicou nova reportagem sobre o livro "Uma Proposta Textual para a Descrição do "O" da Língua Portuguesa" de Sílvio Vieira de Andrade Filho. A reportagem faz um resumo do livro, destacando a sua capa, além de disponibilizar o link para o site do autor.

 

 

Artigos

 

Gramática Tradicional x Lingüística - I

Em "Definido? Uma Proposta Textual para a Descrição do "O" em Português" (título anterior)

Em "Uma Proposta Textual para a Descrição do "O" da Língua Portuguesa" (título atual)

 

Sílvio Vieira de Andrade Filho

 

Através das palavras e dos enunciados numerados da lista exemplificativa no final deste artigo, pretendemos fazer uma reflexão envolvendo estudos antigos e recentes sobre a língua portuguesa.

O grifo de (1) é chamado pela gramática tradicional de artigo definido. Por quê? Seus seguidores afirmam que a palavra grifada é capaz de definir o nome ao lado. Acontece que o ouvinte pode fazer a pergunta contida em (2), comprometendo seriamente a explicação tradicional. Mesmo que a explicação tradicional estivesse perfeita, teríamos outro problema. Se usarmos o raciocínio contido em (3), somos forçados a reconhecer a imprecisão da terminologia tradicionalista. Além disto, a observação de (4) leva-nos à conclusão de que a nomenclatura tradicional em foco serve para o nome de (1) e não para o grifo de (1).

A gramática tradicional (= GT) chama o grifo de (5) de objeto indireto. A primeira explicação da GT é esta: o grifo é o complemento do verbo que tem preposição. Notamos uma distância enorme entre a nomenclatura tradicional e o que esta quer dizer. A nomenclatura que vai direto ao assunto poderia ser esta: complemento verbal em harmonia com o que a própria GT chama de complemento nominal. A segunda explicação tradicional é esta: o nome da expressão grifada é o alvo da ação verbal de maneira indireta. Mas como, se o candidato fala diretamente?

Em (6), notamos nova inadequação terminológica. Aqui, para usarmos a própria nomenclatura da GT, temos um caso de sujeito inexistente. Esta, porém, não usa para (6) tal terminologia, pois não leva em consideração o lado semântico dos enunciados. Daí as falhas terminológicas em todos os enunciados até agora vistos.

A GT, adotando o critério do certo e errado, condena enunciados como (7), argumentando que não se pode iniciar enunciados com palavras como a grifada. Negar enunciados como o (7) é fugir da realidade, é negar o óbvio. Para a Lingüística, que não adota tal critério, o que interessa para a análise é o que se ouve realmente. Assim, (7) representa a realidade, ao passo que (8) e (9) são meras invenções, meras fugas dos gramáticos tradicionais. Se seguíssemos o critério falso da GT, jamais iríamos realizar o estudo da "cupópia", a fala do Cafundó que tem enunciados como (10) sem concordância. A propósito deste fato, verificar Andrade Filho: 2000 e 2009.

O enunciado (11) tem por estrutura mental (12). O ato da fala (11) ocorre graças a uma operação mental (12) que está na cabeça tanto do falante como na do ouvinte. Tem que estar na cabeça dos dois para haver comunicação. Daí a Lingüística Gerativo-Transformacional trabalhar em sua análise com duas estruturas: uma mental e outra superficial. Daí a Lingüística estar ligada à Psicologia (Psicolingüística). Daí a Lingüística fazer parte das ciências humanas. É uma ciência apoiando-se em outra ciência e não como faz a GT que, ao descrever o registro alto, se apóia em exemplos de escritores e poetas. A GT quer fazer ciência e mistura ciência com arte. Ciência e arte são impossíveis de misturar do mesmo jeito que o óleo e a água. Não temos nada contra os literatos. Assim como alguém pode pegar um pedaço de madeira e fazer uma escultura, o literato pega palavras e faz uma obra literária. Ele então está fazendo arte. Está trabalhando a palavra de modo artístico. E muitos trabalham muito bem. Somos contra a GT que mistura ciência com arte. Somos contra a GT que cita um escritor que usa (8) e que condena (7). Somos contra a GT que desconsidera a fala contida em (7).

E o que dizer da Ortografia? Trata-se de mera convenção entre os homens. Em português (13) tem "h", mas a mesma palavra em italiano não tem (14). Sendo convenção, uma língua usa o "h" e outra não. Sendo convenção, as formas podem sofrer alterações periódicas. Sempre estamos ouvindo o barulho de que alguma coisa vai mudar do mesmo jeito que já mudou no passado. Assim, a palavra de (15) já foi outrora escrita do jeito que está em (16). Por ser convenção, a ortografia nada tem a ver com os estudos lingüísticos. A nossa ortografia nem sempre é coerente. Ela manda escrever (17) com "h", grafema sem nenhum valor fonético, mas manda que (18) seja escrito sem este. Isto ocorre porque estamos diante de mera convenção. As regras ortográficas não são regras naturais, duradouras, imutáveis, brotadas da própria estrutura da língua e sim regras artificiais cheias de exceções inventadas pelo homem que, desejoso de estardalhaços periódicos, quer novamente mudá-las, chegando até a piorá-las com tantas incoerências. No referente à acentuação gráfica, devemos lembrar que a língua inglesa não usa acentos.

Os estudos lingüísticos buscam a verdade através de idéias claras e lógicas. A nossa vida mental só funciona bem com coisas claras e lógicas. Por esta razão, os estudos lingüísticos não cometem as incoerências da GT que a deixam difícil de entender e anticientífica. Se predominassem no Brasil, os estudos lingüísticos facilitariam as aulas, os concursos públicos, os vestibulares, etc.

Como podemos perceber, os estudos da linguagem evoluíram como toda ciência. Será que há interesses econômicos que, de modo consciente, impedem a evolução científica, seguindo a filosofia contida em (19) e, desta maneira, atrapalhando a vida dos que estão envolvidos na língua portuguesa ativa ou passivamente através da perpetuação do antigo que não requer nenhum esforço para ter continuidade?

Alguns professores afirmam que seguem rigorosamente o conteúdo tradicional dos livros didáticos. O que está no livro tem para eles força de lei. Por outro lado, elementos ligados ao setor editorial alegam que tal conteúdo representa fielmente o desejo dos professores e tem a aprovação dos órgãos educacionais. Alegam também que uma suposta obra cientificamente atualizada sem a devida aprovação dos referidos órgãos, com certeza, só traria prejuízos. Estamos diante de um círculo vicioso muito difícil de ser rompido.

Do ponto de vista estritamente pedagógico, se o objetivo é o desenvolvimento da capacidade expressiva por parte dos discentes, nenhum modelo de descrição lingüística (GGT, GT, etc.) é válido mesmo que moderno.

Lista de palavras e enunciados

(1) Pegue o caderno para mim

(2) Que caderno?

(3) Quem dirige é diretor, quem compra é comprador, quem consome é consumidor. Portanto, quem define é definidor.

(4) A blusa foi comprada pelo comprador. Do mesmo modo, podemos dizer que o nome foi definido pelo definidor.

(5) O candidato fala diretamente ao povo

(6) Ninguém foi à festa

(7) Me dá um dinheiro aí

(8) Dá-me um dinheiro aí

(9) Dir-te-ei a verdade

(10) As anguta cuendô As mulher chegou (tradução literal)

(11) Lembranças aos seus

(12) Dê você lembranças aos seus pais

(13) homem

(14) uomo = homem

(15) farmácia

(16) pharmacia

(17) Bahia

(18) baiano

(19) Para que vamos simplificar, se podemos complicar?

 

Gramática Tradicional x Lingüística - II

Em "Definido? Uma Proposta Textual para a Descrição do "O" em Português" (título anterior)

Em "Uma Proposta Textual para a Descrição do "O" da Língua Portuguesa" (título atual)

 

Sílvio Vieira de Andrade Filho

 

Através das palavras e dos enunciados numerados da lista exemplificativa no final deste artigo, pretendemos fazer uma reflexão envolvendo os estudos antigos e recentes sobre a língua portuguesa.

Por que a Lingüística faz parte das ciências humanas? As ciências humanas têm por objetivo compreender melhor o ser humano. Assim como o ato de aprender a andar de uma criança é um comportamento humano, a fala é também um comportamento humano estudado pela Lingüística que tem um ramo especial só para estudar este comportamento humano chamado Psicolingüística. A Lingüística, portanto, faz parte das ciências humanas e não está, como a Gramática Tradicional (= GT), ligada à Arte, à Literatura. Em algumas faculdades brasileiras, o curso de Lingüística já está separado do curso de Letras.

Por que os exemplos literários não servem para a Lingüística? Como artistas da palavra, os escritores e poetas praticam certas liberdades que fazem parte de sua criação artística. Dentre estas, está a geração de enunciados artificiais. Um exemplo de artificialismo, de falta de espontaneidade é a chamada topologia pronominal pela GT (1). Não é com enunciados artificiais dos escritores que vamos entender melhor o ser humano. Os escritores geram textos escritos. Se forem ao açougue e pedirem ao açougueiro o que desejam através de enunciados artificiais, como costumam fazer em seus escritos, eles não serão entendidos e vão causar muita estranheza ao açougueiro. Eles vão ter que usar a oralidade para serem bem sucedidos em sua comunicação. A característica principal da oralidade é a espontaneidade. Se não considerássemos a oralidade, não conseguiríamos elaborar o nosso estudo sobre a "cupópia", a fala do Cafundó que tem enunciados como (2) sem concordância. A este respeito, verificar Andrade Filho: 2000 e 2009.

Qual a conseqüência da ligação da GT com os escritores? A GT formula regras de acordo com os enunciados destes. Como conseqüência, as regras são também artificiais como são os enunciados destes. Assim, as regras são anticientíficas. Ao contrário, a Lingüística formula regras partindo do natural, do espontâneo, do real. A Lingüística vê naturalmente a ordem das palavras em (3), mas rejeita a ordem de (1) e (4).

Por que muitas GT vêm acompanhadas dos rótulos contidos em (5)? São rótulos comerciais que só podem significar que estas foram editadas recentemente. O conteúdo destas, porém, está ultrapassado cientificamente.

Por que nenhuma teoria, mesmo que renovada, é válida para a melhoria da capacidade expressiva do aluno? Não é através da memorização de uma nomenclatura (aliás, bastante imprecisa na GT) que o aluno vai atingir tal objetivo. Não é através da memorização dos vários nomes das peças de um motor de um carro que uma pessoa vai atingir o seu objetivo de aprender a dirigi-lo.

Lista de palavras e enunciados

(1) O jogo realizar-se-á às 16h

(2) Os tata cupopiô Os home falou (tradução literal)

(3) O menino.....

(4) Menino o.....

(5) nova, moderna

 

Gramática Tradicional x Lingüística - III

Em "Definido? Uma Proposta Textual para a Descrição do "O" em Português" (título anterior)

Em "Uma Proposta Textual para a Descrição do "O" da Língua Portuguesa" (título atual)

 

Sílvio Vieira de Andrade Filho

 

Através dos enunciados em língua portuguesa numerados na lista exemplificativa no final deste artigo, pretendo fazer um estudo comparativo entre a Gramática Tradicional (= GT) e a Gramática Gerativo-Transformacional (= GGT).

A GT tem este nome porque vem da tradição gramatical dos gregos que foi depois assimilada pelos romanos que a propagaram para a Europa Ocidental. Ao contrário da GGT, a GT valoriza a língua escrita e as noções de certo e errado, tem uma nomenclatura que, na maioria das vezes, não diz nada do fato descrito e não consegue fazer ciência, pois está mesclada com arte através de exemplos literários.

Os estudos lingüísticos de modo científico surgiram somente no século 19 com o Estruturalismo, mas foi com Noam Chomsky a partir de 1957 que tomaram grande impulso, ganhando muitos seguidores no mundo com a sua GGT. Ele afirma que toda criança de qualquer parte do mundo já nasce com a faculdade da linguagem. Aos 18 meses, uma região de seu cérebro especializada em linguagem já está com prontidão para ela começar a desenvolver a linguagem que faz parte de seu processo cognitivo. Basta que ela esteja exposta à língua falada de sua comunidade para começar a aprendê-la. Isto quer dizer que ela nem precisa ir à escola para aprender a falar a língua de seu meio. Assim, a criança já nasce com os constituintes de todas as línguas do mundo. Ela então vai escolher só aqueles que servem para a língua que ela está aprendendo e que são poucos, fato que facilita a aprendizagem. Com estes constituintes finitos, a criança é capaz de gerar ou entender infinitas frases inclusive as que nunca foram geradas antes. Portanto, estes constituintes são naturais, inatos e anteriores às regras artificiais da GT. Assim, com poucos anos, a criança, se for brasileira, já é capaz de saber intuitivamente que (10) é agramatical, isto é, que não está de acordo com os constituintes inatos de sua língua. Por outro lado, ela sabe que (11) é gramatical. Usuária de sua língua oral há algum tempo, ela então vai à escola e aí algo terrível a espera: a GT que vai deixá-la confusa por não operar com lógica e nem com constituintes naturais com as quais ela já estava acostumada. A palavra "gerativo" provém dos fatos expostos anteriormente e a palavra "transformacional" diz respeito às transformações ocorridas durante a passagem da estrutura profunda para a superficial por ocasião da descrição lingüística própria da GGT que é uma gramática de caráter universal.

A GT afirma que o enunciado da placa comercial de (1) tem o sentido de (2) e, pelo sentido de (2), chega à conclusão de que o grifo de (1) é "partícula apassivadora". É bastante ilógico analisar um componente de um enunciado através de outro como faz a GT. A análise de (1) deve ser feita em (1) mesmo. Para a GGT, a última palavra de (1) é mero complemento da primeira e o grifo significa alguém. A confusão da GT reside no fato de (1) ter complemento, o que lhe dá a oportunidade de fazer equivocadamente a referida afirmação. E quando o enunciado não tem complemento, caso de (3)? Para a GGT, a análise de (3) é a mesma de (1). Na análise de (3), a GGT concorda com a GT que, neste caso, não se equivoca. Portanto, a GT tem duas análises diferentes para enunciados que são iguais para a GGT. A GGT é totalmente lógica e tem a tendência de reduzir os fatos lingüísticos, diferentemente da GT que possui enorme desejo classificatório, o que lhe confere falsa erudição. Baseando-se no sentido de (2), a GT afirma que (1) está errado e que o certo é (4). Já a GGT não trabalha com os conceitos de certo e errado e sim com os fatos tais como se apresentam na realidade oral. Apesar das imposições da GT, os usuários da língua portuguesa vão continuar com (1) que tem muito mais naturalidade e lógica que (4).

O enunciado (8) é considerado duplamente errado pela GT que acha que o falante deve usar (9). As razões apresentadas já são aquelas velhas conhecidas. Numa festa junina, o falante que mora na zona rural fala espontaneamente (8) no seu próprio registro. Os moradores do referido local ouvem e não estranham (8) por serem dotados do mesmo registro. Neste contexto, se um visitante da referida festa falar (9), poderá ser criticado por um falante de (8). Portanto, a crítica ao falante de (9) pode partir de usuários do registro contido em (8). O conflito de registros é uma realidade. A palavra grifada iniciando o enunciado como está em (8) é muito freqüente, mesmo que não seja do agrado da GT. Devemos ressaltar também que, em (8), o plural está marcado só no número. Já em (9), o plural está nas duas últimas palavras, o que causa redundância.

As mesmas imposições da GT acompanhadas daquela nomenclatura já comentada estão em (5), (6) e (7). Se a linguagem nasceu para a simples comunicação entre as pessoas, como que a GT pode ter a ousadia de impor-lhes tais enunciados?

Lista exemplificativa de enunciados

(1) Vende-se casas

(2) Casas são vendidas

(3) Dançou-se a noite toda

(4) Vendem-se casas

(5) Prefiro arroz ao feijão

(6) Obedeço aos pais

(7) Assisto ao jogo

(8) Me passe três quentão

(9) Passe-me três quentões

(10) Foi João Tóquio a

(11) João foi a Tóquio

 

Gramática Tradicional x Lingüística - IV

Em "Definido? Uma Proposta Textual para a Descrição do "O" em Português" (título anterior)

Em "Uma Proposta Textual para a Descrição do "O" da Língua Portuguesa" (título atual)

 

Sílvio Vieira de Andrade Filho

 

Através dos enunciados numerados na lista exemplificativa no final deste artigo, pretendo fazer um estudo comparativo a respeito do "o" da língua portuguesa na visão da Gramática Tradicional (= GT), da Gramática Gerativo-Transformacional (= GGT) e da Lingüística Textual (= LT).

Ramo da GGT, a Lingüística Textual (LT) explica que (3) é dito sinteticamente pelo falante porque ele acha que o ouvinte já tem conhecimento do menino que ele está mencionando. Caso o ouvinte possua alguma dúvida ou não tenha conhecimento do menino de (3), este vai dirigir-se ao falante de (3), buscando esclarecimentos através de (4). Daí, o falante de (3) vai esclarecer o ouvinte através de (2). Assim, podemos concluir que (3) resulta de uma redução de (2).

Por outro lado, é impossível haver (2) com a presença de "o" diante do nome "menino" sem a existência de (1) com o nome "menino" sendo antecedido por "um".

Portanto, o grifo de (1) serve para o falante apresentar o nome "menino" ao ouvinte ou ao leitor. Em (2), o grifo serve para indicar que o nome "menino" já foi mencionado em (1) e que agora deve fazer parte do conhecimento do ouvinte. O nome "menino" de (2) é o mesmo nome "menino" de (1). Isto revela que (2) depende de (1) e que tudo faz parte de um texto. A recíproca não é verdadeira.

Vejamos agora o mesmo caso anterior através do exemplo seguinte. Dois colegas usuários de um ônibus costumam encontrar-se no ponto numa determinada hora. Preocupado, um deles (falante) pergunta (6) ao colega (ouvinte). O falante sabe da existência do ônibus e de seu horário e sabe que o ouvinte também é conhecedor de tudo e que tudo está no repertório do ouvinte, razão pela qual dispensa (5) que deve vir obrigatoriamente antes de (6).

Outro caso que podemos estudar está em (8). A GGT aponta como sua estrutura profunda (7) que, depois da transformação de apagamento do nome "livro", deu origem a (8). O "o" de (8) é o mesmo "o" de (7). A GT chama "o" de artigo definido porque este, segundo os seus adeptos, define o nome ao lado como em (2). Se usarmos o mesmo raciocínio de (10), vemos que a terminologia da GT carece de lógica, pois o referido artigo deveria chamar-se artigo definidor. O nome ao seu lado é que fica definido pelo artigo! A impropriedade terminológica é um dos graves defeitos da GT considerada anticientífica.

A GT chama "o" de artigo definido como em (2) e de pronome demonstrativo como em (8). No caso de (8), houve o apagamento do nome "livro" e o deslocamento do "o". Na verdade, o "o" de (8) é o mesmo "o" de (2), (7) e (9). Assim, deve haver só um nome técnico para todos estes casos como ocorre na Lingüística que tem tendência simplificadora. A GT tem o grave defeito de colocar vários nomes para um único fenômeno. A GT não é capaz de fazer generalizações, não sendo, portanto, científica. A GT não tem lógica, fato que muito atrapalha o entendimento das pessoas.

O artigo definido é uma espécie de "ovelha desgarrada" da GT e deve retornar, segundo a Lingüística, à classe dos mostrativos conforme (11). A origem do "o" é o latim vulgar "illu", conforme (12). Até os dias atuais, há muitos enunciados onde "aquele" é empregado no lugar de "o", conforme (13).

Lista exemplificativa

(1) Vimos um menino sábado

(2) O menino, que vimos sábado, voltou

(3) O menino voltou

(4) Que menino?

(5) O ônibus, que pegamos às 14:00 h, passou?

(6) O ônibus passou?

(7) Comprei um livro, mas ainda não li o livro

(8) Comprei um livro, mas ainda não o li

(9) O livro custou caro

(10) Quem vende é vendedor, quem compra é comprador, quem dirige é diretor, quem vence é vencedor...

(11) Este, esse, aquele, o e suas variantes

(12) illu = aquele

(13) Em Cuba, existem os carros que são modernos, mas existem também aqueles carros considerados bem antigos

 

 

 

 

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